Fonte: Vi o mundo
por Conceição Lemes
Racismo faz mal à saúde. A Câmara Federal realizou dia 11 uma audiência pública para avaliar a aplicação da política de saúde da população negra.
Participaram deputados, representantes do Ministério da Saúde, das secretarias especiais de políticas de Promoção da Igualdade Racial e para as Mulheres e ativistas da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra.
A sociedade civil cobrou não só agilidade na capacitação dos profissionais de saúde para identificar e tratar as doenças que afetam os negros mas também combate ao racismo institucional. Ele começa na entrada da unidade de saúde, quando um homem negro, ferido, é tratado como bandido pela recepcionista e vai embora sem receber tratamento. Continua na sala de atendimento, onde as mulheres negras são submetidas a consultas duas vezes mais rápidas do que as brancas.
“A questão principal não é uma doença específica. Negros e negras são vulneráveis à maioria das doenças que afeta brancos, indígenas, ciganos, orientais”, salientou na audiência a médica Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola e representante do movimento negro no Conselho Nacional de Saúde. “O diferencial é o maior impacto que essas doenças têm em nossas vidas por falta de acesso, promoção à saúde, prevenção, assistência e tratamento de qualidade inferior.”
Por coincidência, quinta-feira, 19, o Ministério da Saúde divulgou para a imprensa de todo o país o estudo Saúde Brasil 2008. Ele trouxe ótimas notícias. Uma delas: de 1990 a 2006, a mortalidade por doenças cardiovasculares caiu 20,5% no Brasil. Incluem acidente vascular cerebral (AVC), ou derrame cerebral – a primeira causa, responsável por 9,4% de todos os óbitos no país –, seguindo-se do infarto agudo do miocárdio – a segunda causa mais freqüente, representando 8,8%. Só em 2006 provocaram, respectivamente, 96.530 e 90.604 mortes.
O Saúde Brasil 2008 revelou, também, que, de 1990 a 2006, aumentou o números de óbitos por diabetes como causa básica. Nos adultos de 20 a 74 anos, o risco de morte passou de 16,3 por 100 mil habitantes, em 1990, para 24 por 100 mil habitantes, em 2006. O diabetes tem relação direta com obesidade. A mudança de hábitos alimentares do brasileiro combinada ao sedentarismo são os fatores que favorecem à doença, já que levam ao excesso de peso.
O Viomundo, porém, descobriu uma falha importante no Saúde Brasil 2008 : a pesquisa não avaliou diabetes, doenças cardiovasculares e outras enfermidades para o quesito cor. Toda a pesquisa deveria ser recortada pelo quesito cor.
A hipertensão arterial, ou pressão alta, é fator de risco importante para o infarto do miocárdio e o AVC. Ou seja, aumenta significantemente a possibilidade de a pessoa ter essas doenças. E a hipertensão, como o diabetes, é mais comum e mais grave na população negra.
Considerando que o Saúde Brasil 2008 objetiva direcionar melhor as políticas públicas, a pesquisa ficou capenga. Deixou escapar uma ótima oportunidade de comparar a frequência dessas doenças entre negros com a existente na população geral. Desperdiçou a chance de utilizá-lo para implementar diretrizes mais adequadas, reduzindo as iniquidades por meio da execução de políticas de inclusão social.
Lamentável. O Viomundo questionou o Ministério da Saúde.
“Você tem toda a razão”, admite Deborah Malta, uma das responsáveis pela pesquisa Saúde Brasil 2008 e coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não-transmissíveis do MS. “Nos anos anteriores, a variável raça/cor da pele sempre foi objeto de análise. Em 2009, porém, tivemos a participação de especialistas de várias instituições do Brasil, optamos por não analisá-la. Só que depois da sua crítica pertinente, me sinto estimulada a reformular, pelo menos a minha parte. Aliás, muitos dos dados disponíveis sobre saúde na população negra decorre de trabalhos do próprio ministério. Pode aguardar. Vou refazer a parte da pesquisa que diz respeito às doenças não-transmissíveis e incluir a variável raça/cor cor da pele. Assim que estiver pronta, enviarei para o Viomundo.”
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
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